— Clarice Lispector
"A procura do meu Anjo de Marfim..."
mas sorriu pra dentro, sorriu pra se ouvir, sorriu pra espantar os males que estavam pairando por dentro. Sentiu-se tão bem… parecia que aquele tão simples sorriso fizera toda uma imensidão de feridas e dores, desaparecerem. Parecia que por um momento — naquele momento específico — estava sendo feliz de verdade, com os olhos fechados, com a alma lavada, se deixou embalar pelos tracejados de seu tão singelo sorriso. Era como se os milhões de problemas que haviam embaralhado-se em sua vida, de uma hora pra outra, tinham desatado e liberado um sopro de flores que saíam de seu corpo, flores essas que cobriam seu corpo de uma paz tal que só faziam aquele sorriso que começou tão pequeno, abrir-se cada vez mais (…) aquela coisa de “sorrir pra dentro” deu mais certo do que ela havia imaginado, pois foi a única forma encontrada pra manter-se de pé, pra manter-se firme quando a queda já era praticamente certa, era como se aquilo a fizesse ver o quão bom é essa coisa de amor próprio. — Por quê? Bem simples, bem ali… teria deixado de lado todos os tais. Bem ali teria se libertado de um mal, dos piores o menor, aquele que um dia tanto a fez sofrer chamado Apego, aquele sentimento de preencher-se dos outros e secar-se de si —. E com aquele sentimento tão belo que havia preenchido o seu interior, se deixou amar-se, se deixou cuidar-se, se deixou voar, se deixou… e assim foi, foi feliz por um momento breve, talvez, mas que teria feito toda a diferença. O melhor de tudo foi saber que ela precisou apenas de si mesma para que tal episódio acontecesse:
— Ela apenas sorriu e foi feliz.
"A procura do meu Anjo de Marfim..."
Prometi que não ia falar de algo assim nunca mais, prometi nunca mais escrever sobre amor, ou falta dele, ou tristeza, ou tanto faz. Mas olha eu aqui, rabiscando palavras sobre o mesmos…
É, não tem jeito, eu sou eu e erros, apenas.
"A procura do meu Anjo de Marfim..."